Fomos aos pés da Cordilhera dos Andes, Norte da Argentina, para provar um de nossos vinhos brancos favoritos. Se você planeja ir para lá, ou até mesmo nunca escutou sobre ele, não perca esta matéria. Malbec, seguido por Cabernet Sauvignon e mais recentemente Cabernet Franc, são consideradas as estrelas da Argentina. Porém, existe uma pérola começando a despontar dentro e fora do País. Com características frutais e florais, pertence a categoria de vinhos aromáticos. Possui aroma doce, porém na boca é seco, com toques salinos, boa acidez, por vezes lembrando um Moscato ou Gewurztraminer, o vinho branco mais interessante da Argentina se chama Torrontés. Os espanhóis trouxeram as primeiras videiras para as Américas e os estilos Moscatel de Alejandría e Criolla Chica (ou Listán Prieto, na Espanha) foram as primeiras uvas plantadas no continente. Na região Argentina de Cuyo, onde foram densamente cultivadas no final do século XVIII, as duas variedades se cruzaram e deram à luz a três uvas diferentes: Torrontés Riojano, Torrontés Sanjuanino e Torrontés Mendocino. Vamos falar da melhor versão, a Torrontés Riojano, geralmente chamada apenas de Torrontés. (Nativa Argentina) Podemos encontrar esta variedade nas regiões de Tucuman, la Rioja e Mendoza, mas os melhores exemplares chegam de Calchaqui Valley, uma região de Salta que possui temperatura média anual de 15 graus celsius, geralmente tempo seco, frio durante a noite, ambiente perfeito para bons vinhos.
A harmonização perfeita de um Torrontés é com uma bela pasta Carbonara, lula a provençal, camarões fritos e lagostas. Também combina muito bem com queijo gruyere e de cabra, pratos que levam leite de côco e pescados, mas a combinação de ouro é com as famosas empanadas Saltenhas (vamos contar a história logo a frente), que levam carne cortada na ponta da faca e batatas. E vamos a trip… quais vinícolas visitar, onde comer, alguns hotéis recomendados e outras dicas da região de Salta. Chegamos em Salta pelo aeroporto de Buenos Aires e jantamos no restaurante Doña Salta, um ícone da cozinha local, onde já tivemos um gostinho da harmonização das empanadas locais com um Etchart Privado Torrontés. Consideramos este vinho um dos mais aromáticos e florais da região. Entre os alimentos oferecidos na cozinha de Salta, temos o locro, os tamales, os quesitos, o huaschalocro, ensopados, mas sem dúvida o protagonista da gastronomia Saltenha são as empanadas. Sendo assim a base da nossa alimentação nesta trip foi empanadas e vinhos. Uma curiosidade… as empanadas surgiram pela necessidade dos pastores e viajantes em levar comida em suas cavalgadas, para se alimentarem no campo ou durante a viagem. Não tendo onde colocar a carne, faziam uma massa com farinha para transportar o alimento dentro. Certo tempo depois começaram a assar a massa junto com o recheio e surgiram empanadas, calzones, esfihas, etc. Notem que as famosas empanadas “Saltenhas” que conhecemos no Brasil, não são de Salta e sim Bolivianas. Conta a história que uma senhora proveniente da região de Salta, famosa por suas empanadas, chegou a Bolivia e começou a produzir estas iguarias. Logo, os locais costumavam comprar as empanadas da senhora de Salta, da Saltenha. Não demorou muito para as Empanadas da Saltenha ficarem famosas, ou seja, as Saltenhas, são bolivianas feitas por uma senhora de Salta. Se você busca por uma empanada em Salta, uma saltenha, encontrará uma empanada com a carne cortada na ponta da faca. Agora você já sabe, empanada de carne, cortada na ponta da faca e com “costura por cima” é uma saltenha Boliviana, com costura lateral, é saltenha de Salta. No dia seguinte, saímos cedo, pois alugamos um carro no centro de Salta e fomos desfrutando a Ruta 68 a caminho do polo dos vinhos Torrontés, a cidade de Cafayate. Este caminho deve ser apreciado com calma, pois existem muitas paradas interessantes como: La quebrada de Las conchas, mirante tres cruzes, el anfiteatro e la garganta del diablo. Seguimos direto para a nossa primeira vinícola, Estância Los Cardones, do enólogo Alejandro Sejanovich (Famoso pelo vinho Manos Negras), que fica a 15 minutos ao Sul de Cafayate, na cidade de Tolombón. Fomos recebido com muito carinho pelo pessoal da vinícola que nos esperavam com... empanadas! Era feriado neste dia e a vinícola foi aberta apenas para nos receber e já tivemos um gostinho do que estava por vir. A vinícola foi feita com pedras extraídas do vinhedo, onde podemos ver nas paredes o solo da região querida a 1700 metros de altura. Apesar de estarmos na terra do Torrontés, Los Cardones se destaca por um vinho cofermentado com Cabernet Sauvignon, Petit Verdot, Tannat e Garnacha que descansa 18 meses em barris de 500 litros. Saindo da degustação, ficamos em uma pousada na beira da estrada, pertinho da vinícola, chamada Posada de Las vinas. Os donos produzem vinhos, cozinham e nos receberam como se fossemos da família. Muito bom o local para uma primeira noite de adaptação a região. No dia seguinte, saímos logo pela manhã para a bodega Yacochuya, da família Etchart. A família vendeu a famosa bodega Etchart e ficaram com a Yacochuya, uma bodega famíliar do famoso Arnaldo Etchart, onde fazem o aclamado vinho San Pedro de Yacochuya. Esta vinícola é uma pérola que fica escondida dos roteiros turísticos. Fomos recebidos por Marcos Etchart, o herdeiro do já falecido Arnaldo. Marcos nos levou a um passeio por toda a propriedade, mostrando sítios arqueológicos e o solo da região. Provamos todos os ícones direto das barricas. Já adiantamos que a Bodega Yacochuya produz os mais finos vinhos de Salta! O almoço e degustação foi na vinicola Piatelli, que possui como vinho ícone um tinto, chamado Arlene Séries, Ícone Blend. Um corte de 85% Malbec, 10% Cabernet Sauvignon e 5% Cabernet Franc. O chef da casa nos recebeu com um atendimento VIP, com entranha, matambre, mollejas e outras especialidades que estava preparando “ a la parrilla”. Mollejas são glândulas do boi, em português se chama Timo, são tratadas como iguarias na Argentina e realmente são uma delícia. Em seguida fomos a uma degustação na El esteco que também é um resort de luxo. Dois vinhos imperdíveis são: ALTIMVS, blend de Cabernet Sauvignon, Malbec, Cabernet Franc e Merlot. BLEND DE EXTREMOS, Torrontés de diferentes regiões, de 1700 e 2000 metros de altitude. E como a caravana não para, as 10:00am do dia seguinte, lá estávamos nós na vinícola El Porvenir, onde você pode provar vários vinhos por taça, visitar os vinhedos ou até fazer um piquenique. Nesta vinícola encontramos as maiores variedades de Torrontés. O tradicional e mais famoso é o “Laborum”, da Finca El Retiro, um Torrontés de 3 tempos de colheita, que traz características distintas, herbais, florais e doce, sendo um dos mais reconhecidos vinhos da região. Oferecem também colheitas tardias, colheita de outono e até um vinho Laranja (70% Torrontés, 30% Moscatel). Os tintos da El Porvenir são excepcionais, com o Alto Los Cuises 100% Malbec, na lista de imperdíveis. O almoço foi na restowine Vasija Secreta, com cozinha de autor e uma bela vista. Vale a visita e tomar um Torrontés a beira dos vinhedos, apesar de ser o ponto mais turístico da região por ser a bodega mais antiga de Cafayate. A sobremesa não poderia faltar e foi um maravilhoso sorvete de vinho Torrontés e Cabernet Sauvignon na Heladeria Miranda. Fomos atendidos pela dona que tem muito orgulho de ser a primeira a inventar o produto, que realmente tem um sabor original. Tiramos a tarde e noite para descansar e desfrutar de um resort fantástico, Vinãs de Cafayate wine resort. O local oferece uma das melhores gastronomias da região e o café da manhã pode ser servido no quarto, em frente aos vinhedos. Após o checkout, continuamos no próximo post, com mais empanadas, Torrontés, Malbec, paisagens e até múmias…
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Andre & Karla
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