Considerado por muitos Italianos como sendo o melhor vinho da Itália, Amarone passa por um complicado processo de produção, chamado appassimento, o que eleva o preço de qualquer vinho da região a no mínimo 30 euros, mas que pode passar de até 500 Euros a garrafa. Chegamos na famosa região de Valpolicella, região esta que é um orgulho dos italianos, onde muitos afirmam estar o melhor vinho da Itália. Não estamos falando de Barolo, Brunello ou Chianti, mas sim do Amarone della Valpolicella. Ao se chegar em uma area produtora de vinho, além da duvida de quais produtores visitar, temos sempre o questionamento de onde se hospedar? Resolvemos ficar exatamente no coração da região de Valpolicella, na cidade chamada San Pietro in Cariano. Em um achado, ficamos no Hotel Agriturismo Domus Cariana. A propriedade é rodeada por vinhedos e se pode visitar vinícolas e restaurantes a pé. O jardim do Hotel é assim... Na rua do Hotel esta uma propriedade abandonada, na qual rumores contam que pertence a Brad Pitt e Angelina Jolie, custou 40 milhões de Euros e está abandonada após a separação do casal. Após um belo café da manhã, com produtos locais, fomos caminhando até a vinícola familiar FLATIO, onde fomos atendidos pelo dono, para uma degustação especial. Provamos Valpolicella Clássico, Valpolicella Ripasso, Amarone, Amarone Mario (homenagem ao pai do enólogo e feito apenas em anos espetaculares) e o famoso vinho de sobremesa Recioto. Também demos uma volta pela vinícola para acompanharmos o processo de produção. Após a degustação, compramos a última garrafa do Amarone Mario, 2010. Um exemplar raro, de um produtor que dificilmente vende para fora da Itália, uma jóia! Mas vamos falar um pouco de cada estilo... Valpolicella é uma região da província de Verona, que produz em sua maioria vinhos tintos, feitos principalmente com a uva Corvina sendo a dominante nos blends. Outras duas uvas populares que complementam os cortes de Valpolicella são: Rondinella, Corvinone e Molinara. Os vinhos básicos de Valpolicella são servidos um pouco gelados, devido a sua leveza e semelhança com os beaujolais. Note que temos 4 principais tipos de Valpolicella: Valpolicella, Classico, Superiore e Ripasso. Se o vinho apresenta no rótulo apenas a Palavra Valpolicella, isso quer dizer que as uvas podem vir de toda a região DOC (Note que temos DOC e DOCG, sendo os DOCG os vinhos Italianos com melhor qualidade). Já os Valpolicella Classico, são aos rótulos de uvas provenientes apenas das primeiras áreas a produzirem vinhos na região, considerada a área principal de Valpolicella. Para atingir a categoria Superiore, os vinhos precisam ficar ao menos 1 ano em madeira e atingir o mínimo de 12% de teor alcoólico. Finalmente temos o Ripasso, onde já começamos a ter um vinho mais especial e que começa a dar pistas de como são os Amarones... Mas para entendermos os Ripasso, temos que entender de Amarone. E para entendermos sobre Amarone, temos que entender sobre Recioto. Por que? Imagine que sem Recioto não existiria Amarone, que não existiria Ripasso. Vamos explicar... Recioto é um vinho doce, que passa pelo mesmo processo de fabricação do Amarone, chamado Appassimento. Neste processo, as uvas são colhidas e colocadas em esteiras para secarem, por até 4 meses. Com isso as uvas perdem até 40% do seu peso em água. O resultado é uma fruta extremamente concentrada e doce, que vai produzir o Recioto, um excelente vinho de sobremesa. Acontece que, conta a lenda, um produtor de Recioto esqueceu de engarrafar um lote, que refermentou, ficou seco, mas não perdeu a sua concentração... Como antigamente os vinhos doces eram mais apreciados, principalmente pelos vizinhos Alemães, ninguém gostou deste “novo estilo”, porém ele foi engarrafado, degustado mais tarde por outros produtores, que apreciaram o resultado de um vinho mais seco, e resolveram deixar as uvas com menos tempo em Appassimento, resultando em um vinho menos doce que o Recioto, surgia assim o famoso Amarone della Valpolicella. *Degustação dos Amarones que fizemos na vinícola Masi. Um Amarone passa respeito, um vinho que chega facilmente a mais de 16% de teor alcoólico, encorpado, envelhecem por muitos anos em madeira (Neutra), que precisa de tempo para ser apreciado (geralmente 10 anos, podendo ainda evoluir por mais de 20 anos) que pede uma bela carne ou uma barra de chocolate na frente da TV, ou ser for mais ousado, apenas Amarone com lascas de queijo Parmigiano-Reggiano. Mas quem é o dono da festa? Qual o Amarone mais famoso da Região? Qual seria, talvez, o vinho mais famoso da Itália? Pegamos o telefone e ligamos para a Azienda Agricola Quintarelli Giuseppe, tendo a petulância de dizer que, Locoporvino gostaria de visita-los... Resultado: “Claro que sim, será um prazer recebe-los”. Como diz um amigo meu Gaúcho, “ai caiu os butiá do bolso”. Localizada pertinho da vila de Negrar, a vinícola Quintarelli, tinha sob comando um senhor que era considerado o melhor winemaker da Itália, Giuseppe Quintarelli, falecido em 2012. *A direita, Giuseppe Quintarelli. Hoje sua família continua o legado do Amarone mais caro da Itália. (Uma garrafa na vinícola custa em torno de 200 euros, e Vintages mais antigas passam facilmente dos 500 euros.) Fomos recebidos por Francesco Grigoli, neto do Sr Giuseppe. Qualquer garrafa mais antiga que 2012, tem um valor especial por ser o último ano de seu Giuseppe, sendo assim , levamos uma 2009 para nossa Adega. O sentimento é quase como o de comprar um quadro de Picasso. Um vinho excelente, que nos impressionou, foi a versão “Amarone” de um 100% Cabernet Sauvignon, produzido exatamente como um Amarone, porém sem as uvas exigidas pela DOCG, por isso não pode se chamar Amarone. Bom, ainda falta falar do tal Ripasso. Comentamos que sem Amarone, o Ripasso não existiria certo? Pois o Ripasso é justamente um vinho Valpolicella normal, que é refermentado com as uvas que sobraram do processo de produção do Amarone. Então imagine, o Amarone é prensado e fermentado, o vinho é separado, e nas cascas que sobram deste processo, é adicionado um vinho Valpolicella já pronto, que refermenta na presença do Açúcar residual, resultando em um produto final que fica entre o Valpolicella e o Amarone. Temos o Ripasso. Quantos aos pratos tradicionais de Valpolicella, estão: Burro ensopado com Polenta (Isso mesmo, carne de burro) Ravioli de Abóbora com açúcar Steak ao molho de Amarone. E de sobremesa, salame doce, ou ainda uma bolacha de amêndoa que você molha na grapa de Amarone. Valpolicella fica menos de meia hora da bela cidade de Verona, nossa próxima parada, onde você pode praticar o romantismo, visitando a casa de Romeu e Julieta. Pegue sua “Julieta” e venha tomar uma Amarone em Valpolicella.
Salute!
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Andre & Karla
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