Mostramos alguns motivos do vinho Francês ser tão caro. O vinho não precisa ser caro para ser bom. Ser caro, significa apenas um maior cuidado no processo de produção, tanto na adega quanto no campo, idade do vinho, qualidade da safra e além disso tudo, conta o preço do terreno onde as uvas são cultivadas. Basicamente, e grosseiramente é isso. Em outra trip que fizemos a Bordeaux, visitamos muita coisa, produtores famosos que estão na classificação “first Growth Bordeaux” e que consistem apenas em 5 Chateaux que carregam o título de melhores vinhos de Bordeaux. São eles: Chateau Lafit, Latour, Margaux, Haut Brion e Mouton. A particularidade destes famosos Chateaux, é que estão todos do lado esquerdo da região de Bordeaux, chamada left bank, que é dividida do lado direito (chamado right bank), pela região Entr-Deux-Mers. Outro ponto questionável, é que a classificação que deu origem a estes superstars, se deu em 1855 e é praticamente inquestionável. (Você pode entender melhor sobre ela na aba “França” de nosso site.) Estes vinhos, do lado esquerdo, são um blend (Assim como os tradicionais vinhos de Bordeaux) com predominância de Cabernet Sauvignon. Porém, do lado direito, o Right Bank, algumas áreas possuem classificação diferente, como Saint Émilion, ou até não possuem classificação, como o caso de Pomerol, região do famoso chateau Petrus. Mas então o que faz um vinho de Bordeaux ser tão caro? Apenas a classificação? Claro que não, afinal Petrus vem de uma área sem classificação e é um dos vinhos mais famosos e caros do mundo. Visitamos St. Émilion, mais precisamente o Chateau Pavie, um dos 4 Premier Cru Classé A. Isso mesmo, apenas 4 vinhos estão na classificação máxima de St. Émilion , são os aclamados: Chateau Pavie, Angelus, Ausone e Cheval Blanc. A região, classifica, desde 1954, seus vinhos em: Premier Cru Classé A, Premier Grand Cru Classé B e Grand Cru Classé . Sendo apenas 18 vinhos na classe Premier A & B e 64 Grand Cru. A característica principal do lado direito, é que (ao contrario do left bank), possui predominância em Merlot. Aliás, chateau Petrus, foge da “regra” de Bordeaux ser um blend de uvas e produz seus vinhos 100% Merlot. A classificação do Right Bank é revisada a cada 10 anos (ao contrário do left bank que é quase imutável). É claro que pertencer a estas classificações, automaticamente elevam o preço dos vinhos em algumas dezenas e centenas de Euros, porém existe um tratamento delicado com as uvas e métodos de produção, que acabam justificando seu valor. Vamos a estes fatores que encontramos no Chateau Pavie: 1 - Green harvest, ou poda verde. Consiste em eliminar alguns cachos da vinha, deixando apenas as uvas mais saudáveis para usufruir de todos os nutrientes que a planta tem a oferecer, sem precisar dividir os minerais e água com outros cachos. Isso aumenta a concentração de sabor das uvas, porém reduz a capacidade de produção por planta de, normalmente 1 garrafa, para apenas 1 taça. (Este processo reduz a produção de uvas) 2 – Usam sempre fermento natural. Isso significa que a fermentação é sempre controlada por temperatura, para que as leveduras presentes na casca da própria uva, façam o papel de fermento e começem o trabalho de transformar o suco de uva em vinho. Este é um processo que deve ser acompanhado de perto, pois se não for bem feito a fermentação pode parar. (Processo mais arriscado e que precisa de mais controle) 3 – Só utilizam o free run juice. Esta expressão é utilizada para os vinhos produzidos apenas pelos sucos que saem naturalmente da uva, sem usar nenhum tipo de prensa. Normalmente, após a fermentação, as empresas prensam a capa residual de cascas e sementes das uvas, de onde se extrai o vinho prensado, encorpado e com muito tanino. Mas não no chateau Pavie. (Isto reduz a produção de vinho) 4 – Utilizam, em sua maioria, barris de Carvalho francês novos. O impacto nos preços em se usar apenas barris de carvalhos novos é muito alto, afinal um barril pode custar de 400 a 800 euros, onde se armazena apenas 225 litros de vinho, depois são usados para o vinho de outra linha e finalmente vendidos após 3 anos de uso. (Este preço deve ser repassado ao valor do produto) 5 – O vinho fica armazenado até 24 meses em barris de carvalho. Este armazenamento utiliza espaço e a empresa fica com “dinheiro parado”, dentro da sua adega, por mais tempo que os produtores menores. (Isso aumenta o custo de armazenagem e diminui o capital de giro) 6 – Colheita manual, ao invés de tratores. (Aumenta o custo operacional) Em resumo, apenas 100.000 garrafas saem de 37 hectares, que são muito bem cuidados. Estes fatores, unidos a posição na classificação e a sua localização geográfica, transformam os top de linhas de Bordeaux, nos vinhos mais caros do mundo. Mas vamos a alguns detalhes interessantes de nossa visita… Sabe o que é esta cinta de madeira na borda dos barris? Para que serve? Isto é a madeira de castanheira, usada para “distrair” os parasitas caso apareçam. Eles atacam primeiro esta madeira e deixam o carvalho para depois, isto mostrava aos produtores a hora de agir, antes de que as pragas chegassem ao carvalho. Hoje em dia estas cintas são usadas apenas para decoração, pois em condições de higiene, temperatura e armazenamento adequadas, estes parasitas já não são mais um problema. (As rosas na frente dos vinhedos servem para o mesmo propósito, as pragas atacam as rosas primeiro e as plantas depois) Outro detalhe destes vinhos maravilhosos, é que eles devem ficar em garrafa por mais ou menos 10 anos, para estarem em seu ponto ideal. Isso se deve ao vinhos não serem filtrados, e ficarem em contato, “amadurecendo” com suas partículas. Ao final dos 10 anos, o vinho deve ser decantado, para separar os resíduos sólidos do líquido precioso. Este tem 70% Merlot, 20% Cabernet Franc, e 10% Cabernet Sauvignon. Chateau Pavie possui uma das primeiras vinhas que foram plantadas na região de St. Émilion e sabemos que vinhas velhas produzem vinhos melhores. Você imaginária algum vinho ser guardado sem rolha, por 90 anos e estar em perfeitas condições? Isto incrivelmente aconteceu no Chateau Pavie. O dono do Chateau, em uma celebração especial, abriu duas garrafas do ano de 1929. Uma delas, estava com os defeitos provenientes da rolha, devido aos anos de armazenamento, e a deixaram de lado. Abriu a segunda e esta estranhamente não tinha rolha, apenas a capa ou lacre de proteção. Provaram o vinho e ele estava excelente, sem defeito algum! Todos ficaram espantados e foram buscar a causa deste “milagre”. Isto foi graças a capa que se usava antigamente, feita de chumbo e proibida nos dias de hoje, pelos danos que podem causar a saúde. Enfim, a visita ao Chateau Pavie foi muito informativa, muita história e tivemos a honra de provar um Premier Cru Classe A. Mas devem estar se perguntando… o vinho, é bom? Vale o preço? (De €300 a €10.000 euros dependendo do ano) Você compraria? O vinho é mais que excelente, estamos falando da alta gama, dos top mundiais. Mas você compraria? Depende de muitos fatores, não existe o: “Nunca, que absurdo!” Muita gente têm condições e paga estes valores sim, possuem certos luxos e um deles são os vinhos de marca. Aliás, nas grandes casas, existe até fila de espera para comprá-los e muitas vezes, elas só vendem para clientes que já adquiriram outras safras anteriormente. Em um vinho deste valor, você deixa de comprar apenas o líquido “vinho”, você compra qualidade, história, marca, glamour... fatores que estão muito além do vinho. Não é a toa que grandes produtores de Champagne e vinhos franceses, foram adquiridos por empresas donas de marcas famosas como Louis Vuitton. Quanto a gastronomia, se você quiser provar do melhor que pode encontrar em Saint Émilion, sugerimos o aclamado, 2 estrelas Michelin, Hostellerie de Plaisance. Oferecem um menu degustação, harmonizado com vinhos locais, começando por €72 Euros por pessoa. Se quiser pode acrescentar um Premier Grand Cru Classe na refeição. Ao final, um carrinho com ervas frescas, para voce fazer um blend de sua escolha, para uma infusão (chá) e outro carrinho com queijos franceses. Que tal esta experiência na Europa? Toparia?
Salud.
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Andre & Karla
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