Chegando em Napa Valley, a "Meca" dos vinhos do novo mundo, é inevitável a comparação com a mais famosa região do antigo mundo, Bordeaux. Napa e Bordeaux são provavelmente as regiões mais famosas quando se fala de vinhos de alta qualidade. Os dois lugares tem alguma semelhança, vinícolas espalhadas pelas estradas e excelentes vinhos, mas para por aí. Em Bordeaux é difícil encontrar restaurantes, tudo fecha cedo, sentimos que a população não quer receber turistas, gosta de preservar as características da região e manter um clima de suspense sobre seus Chateaux. Já Napa tem mais vida, mais clima de festa, tudo muito organizado, porém caro. O custo médio de um passeio a Napa é $460 por pessoa, por dia! A maioria das vinícolas tem degustação aberta ao público, com valores de $20 a $60. Também é fácil encontrar restaurantes e vários tipos de tours, com até 4 vinícolas visitadas por dia, que podem ser feitas de limousine ou trem. Napa é conhecida por seu Cabernet, com sabores salgados, picantes e defumados, seguidos por Merlot, Chardonnay e Pinot Noir. Com mais de 400 vinícolas espalhadas pela região. Então em sua visita você deve fazer algumas escolhas, pesquisar onde visitar e fugir das armadilhas para turistas e é por isso que estamos aqui. Cabernet de Napa é caro, os melhores chegam a valer $60 a taça, e não menos que $120 a garrafa. Porém existem variedades excelentes como a Zinfandel, geralmente com teor alcoólico maior que 14%, onde encontramos ótimos vinhos a preços mais em conta. Quando se fala de Napa Valley, incluímos suas 16 sub-regiões: Coombsville, Oak Knoll, Yountville, Oakville, Rutherford, Stags Leap, St Helena, Calistoga, Diamond Mountain, Spring Mountain, Mount Veeder, Atlas peak, Chilles Valley, Howell Mountain, Carneros e Wild Horse Valley. Por que as regiões são importantes? Porquê dependendo da uva de sua preferência, ela encontra melhores micro climas para se desenvolver e extrair o melhor de suas caracteristicas nas diferentes regiões, exemplo... Se você gosta de Pinot Noir, as melhores regiões são as frias Carneros e Wild Horse Valley; Se prefere um Zinfandel, encontrará excelentes na Chilles Valley; Procurando expressivos Cabernet? Rutherford é uma boa pedida! Nós ficamos hospedados em uma vinícola chamada Lawer, em Calistoga, mais ao Norte de Napa. Nossos dias eram sair cedinho, visitar as vinícolas cruzando todo o valley, passando pela bela e chique St Helena, até chegar na cidade de Napa. No caminho a paisagem que nos encanta, vinhedos por todos os lados. Napa Valley possui inúmeras opções, conseguimos algumas visitas importantes em nomes consagrados, como Opus one, Charles Krug, Montelena, Ridge, Beringer e Mumm. Nossa visita começou pela Opus One... Quando visitamos o Chateau Mouton Rothschild em Bordeaux (ver a seção França), entramos mais a fundo na História do Baron Philippe Rothschild, que veio aos EUA e em parceria com Robert Mondavi fundou a Opus One. Robert Mondavi é o pioneiro do novo mundo, um ícone mundial que trouxe aos EUA a fermentação com temperatura controlada e envelhecimento em barris de carvalho francês, elevando a indústria dos vinhos americanos a outro nível. Então é claro que esperamos da Opus One um blend, estilo Bordeaux, com predominância de Cabernet Sauvignon e assim foi... Com produção limitada e usando tecnologia como a de Seleção óptica das uvas, uma garrafa de Opus One gira em torno de $300 e está entre os vinhos mais caros de Napa. Veja que as uvas são colocadas no tanque de fermentação usando gravidade, entrando pelo andar de cima em uma abertura feita no piso. Esta técnica visa preservar ao máximo o vinho, sem grandes perturbações no produto. Muitos perguntam o que faz um vinho custar $300 e outros $10 certo? Um vinho de $300 usa geralmente colheita manual, muitos utilizam a Optical machine, uma maquina que seleciona somente as uvas saudáveis(descartando o restante para suco ou geleias), com formato e cor selecionados. Estas vinícolas também controlam a quantidade de uvas nos vinhedos, limitando a produção e concentrando sabor. Muitas usam barris de carvalhos novos apenas uma vez, que custam entre $900 a $2000. As vinícolas TOP, geralmente mantém o press wine, (vinho que sai da prensagem das cascas após a fermentação) separado do free run juice (vinho que ficou apenas em contato com as cascas, mas não foi prensado para extrair o máximo do produto) e só misturam os dois vinhos se o winemaker achar necessário. Já as vinícolas com menos potencial, não podem se dar a esse luxo e misturam o vinho prensado, junto com o free run juice, ganhando vários litros ao final do processo. Existem ainda as vinícolas que guardam os vinhos em garrafas por até 10 anos antes de lançarem ao mercado. Note que juntando cada detalhe, ao custo de manter um tasting room de luxo, chegamos facilmente na equação de um vinho de $300. Fomos convidados a degustar um Opus One 2013, 79% Cabernet Sauvignon, 7% Cabernet Franc, 6% Merlot, 6% Petit Verdot, 2% Malbec. Resultando em um vinho elegante, com taninos presentes porém não agressivos, cremoso em um primeiro momento e final persistente, lembrando chocolate. A vinícola lembra os mais caros e mais modernos chateaux de Bordeaux. Nossa segunda parada não ficou pra trás, nada mais que a Charles Krug, fundada por Krug em 1861 e comprada por Peter Mondavi em 1943. A vinícola mais antiga de Napa e o primeiro tasting room da California, guarda um dos melhores Cabernet que já tomamos. Infelizmente os melhores vinhos não são disponibilizados nas lojas, só vendem na vinícola. Se você for visitar Napa, Charles Krug deve estar entre seu passeio! Provamos alguns vinhos reserva, entre eles o "X Clones", um Cabernet Sauvignon de 10 diferentes clones, 100% Cab e 15.3% de teor alcoólico. Um vinho extremamente balanceado, que apesar de Jovem (2013), já pode começar a ser apreciado. O detalhe mais marcante está na cor, quase negro, um Cab estruturado e bem concentrado. Em Napa um passeio muito popular é o wine train... para quem está disposto em gastar mais de $500 por casal, o trem visita 4 vinícolas e oferece jantar, salgado pelo jeito. Uma parada inevitável é o famoso Gott's, um cheeseburguer e batatas fritas com alho não tem erro. Seguindo nossas visitas, dirigimos através da Howell mountain até a familiar Dunn. A vinícola não é aberta ao público, porem os vinhos podem ser encontrados em 11 países a uma media de $120. Dunn mantém a característica de criar vinhos de longa vida, ou seja, boa acidez e muitos taninos. Falam que não adianta ter excelentes vinhos que estarão "mortos" em 10 anos. Degustamos os mesmos vinhos de Vintages diferentes, 100% Cabernet Sauvignon, 2011, 2012 e 2013. Fantástico ver como o mesmo método de vinificação tem vinhos completamente diferentes, exclusivamente pela ação do clima de cada ano. Outro detalhe importante está no baixo teor alcoólico destes Cabs, sempre menor de 14%. Isso se da pela colheita antes da uva desenvolver todo os açúcares. Porém, se a temporada for muito quente, sem evitar o alto teor de açúcar, eles usam uma máquina chamada "reverse osmosis", que retira um pouco de álcool do vinho, para muitos uma agressão ao produto e um método muito contestado. Para o dono: "muita gente não sabe o que fala". Vale a pena comparar os grandes nomes com as "boutique wineries", Dunn tem um Cabernet respeitado por todos em Napa, considerado um dos melhores Cabernet da região, com lista de espera para adquirir uma garrafa. Ainda visitamos Ridge, com excepcionais single-vineyards desde 1962. Logo na frente da vinícola, plantas de mais de 100 anos, produzindo vinhos históricos. Na foto abaixo, uma ideia de como eles trabalham para completar os barris com vinho. Ja trabalhamos fazendo isso na Turquia e é bem difícil a manobra. Geralmente temos de duas a três fileiras de barris, na Ridge são oito linhas de carvalho americano. Beringuer, fundada em 1876, é a mais velha vinícola que esta no mercado continuamente em Napa Valley, ficou em poder da famosa Nestlé por 25 anos. Fomos recebidos pelo sommelier master para um tour VIP, nos mostrando cada detalhe da propriedade e uma degustação de raros vinhos, muitos nem saem ao público. Terminamos nossa degustação com um Cabernet 100%, 97 pontos na Wine Advocate do famoso Robert Parker. Mumm, um dos melhores espumantes da California e um dos TOP destinos turísticos da região. Finalmente a famosa Chateau Montelena, que mudou o rumo dos vinhos americanos ao vencer um Blind tasting em Paris, no ano de 1976, com seu excelente Chardonnay. Sua História está representada no filme Bottle shock. Na parede a garrafa mais importante da história dos EUA, Chateau Montelena 1973, que venceu a degustação na França. Comparando novamente EUA e França, fica claro que as regulações e a história do velho mundo, elevam os valores dos vinhos Franceses. Nos EUA o uso de irrigação, máquinas para controlar o teor alcoólico, adição de água e até mesmo a infusão de Botrytis, são exemplos de manipulações permitidas. Sem uma regulamentação rígida como a Francesa, os vinhos do novo mundo ainda ficam pra trás em termos de confiabilidade do produto, pois cada um faz o que quer. Mas enfim, Napa é considerada a Disneylândia, a Las Vegas dos vinhos e vale a pena conferir... Porém, se você quiser algo mais "calmo", mais campo, a dica é a sua vizinha Sonoma.
Sonoma abriga a famosa Russian River Valley, tastings em torno de $15-25, guarda cremosos Chardonnays, suculentos Zinfandel, ótimos blends e refrescantes Sparkling wines, sem contar os Pinot Noir de Carneros. Salud!
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Andre & Karla
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