O Peru consegue produzir vinhos a nível de Argentina, Chile e Brasil? Após uma longa espera, de mais de 2 anos, voltamos para a estrada, desta vez para completarmos 97 países visitados e a última das 7 maravilhas que nos faltava, Machu picchu. Trip difícil, longa e cheia de logística, então optamos por contratar uma agência de viagens para nos auxiliar no roteiro, que foi repleto de detalhes. E que surpresa boa, não poderíamos ter tomado decisão melhor. Contratamos os serviços da @triplatina e fomos em uma road trip, dois carros, 9 pessoas, que viraram amigos e mais de 3.000km percorridos. Aventura com direito a sobrevoo nas linhas de Nazca, caminhadas a 5.000 metros de altitude, passeio de barco no lago Titicaca, buggy pelas gigantescas dunas do oásis de Huacachina, tour pelas ilhas Ballestas em Paracas, apreciamos o voo dos Condores no vale de Colca, na cordilheira dos Andes, e muita cultura Inca no vale sagrado na cidade de Ollantaytambo. Fomos a Cusco e Lima, além é claro de Machu Picchu e muitas surpresas boas pelo caminho, como vulcão ativo, plantações gigantescas de oliveiras, montanhas coloridas, alpacas e llamas para todos os lados. O passeio pede muito chá de coca, disponível em todos os hotéis, pois a altitude realmente afeta. A gastronomia de um país eleito por vários anos consecutivos como melhor destino culinário do mundo pelo World travel Awards, e que possui vários restaurantes no top 50 do mundo, não poderia deixar de merecer atenção especial. No caminho encontramos muito ceviche (de Truta no interior e de linguado no litoral). Existem relatos que versões do ceviche existem há mais de 2000 anos, na antiga civilização Moche, onde ao invés do peixe ser marinado em limão, era marinado com banana e pêssego. Com a chegada dos espanhóis na América do Sul, essa receita teria sido adaptada com limão e chegado mais perto das receitas do ceviche que é mais comum hoje em dia. Dá pra gente dizer então que o ceviche que conhecemos hoje é de origem indígena-espanhola, no período da colonização. A causa, também conhecida como Causa Limeña é um prato típico e representativo da gastronomia peruana, o mesmo tem como origem a era pré-colombiana, já que no antigo Peru este prato era preparado com batata amarela (papa amarilla) prensada com pimenta picada (ají amarillo). Os recheios vão desde frango e atum, a alguns mais sofisticados como polvo. Lombo saltado, que se trata de uma carne cozida com batatas, cebola e tomate. Provavelmente, junto com o ceviche, um dos pratos mais tradicionais do Peru. Ele se originou nos bares que os primeiro imigrantes chineses abriram em Lima, por isso é um prato com ingredientes típicos peruanos, mas feito com técnicas chinesas de preparo, que é baseado no salteamento dos alimentos (pulo em espanhol é salto, por isso “saltado”) O Arroz com pato. Muitas culturas pré-hispânicas no Perú consumiram pato como parte de sua dieta diária. Um dos casos que mostram isso é o que podemos ver nas cerâmicas e huacos com este pássaro que estão expostos no Museu Arqueológico Nacional de Brüning. Alguns especialistas consideram que faz parte das refeições que pertenciam à elite pré-colombiana. O espinafre e coentro no arroz dão um toque verde, característico no prato. Cuy (porquinho da Índia, para desespero dos veganos) assado ou frito. O Peru é o país com a maior população e consumo de Cuy, produzindo uma produção anual de 16.500 toneladas de carne em benefício de mais de 65 milhões de Cuyes. A carne de porco-da-índia peruana é um alimento de excelente sabor e qualidade. Caracteriza-se por um alto nível de proteína e baixo teor de gordura; também, colesterol, minerais e vitaminas de boa qualidade. Papas a lá huancaína. Batatas ao molho de pimenta amarela, ou Aji amarillo. Quando se pergunta aos garçons do que se trata é comum escutarmos: “ el ají amarillo y el queso se juntan con la leche y se combinan de una forma perfecta”. Os pratos não param por aí. Ainda se encontra muitas sopas, que chamam de Chupe; Os tiraditos, que são peixe cru estilo carpaccio; Arroz Chaufa que é uma fusão da gastronomia peruana e chinesa, sendo basicamente um mexido de arroz com diversos sabores; Outro prato conhecido se chama Rocoto relendo, uma pimenta peruana (estilo pimentão) recheada com carne moída, amendoim e ovos. Eles também comem carne de Alpaca, um parente da Llama. Na visita que fizemos as salinas de Maras, compramos deliciosos chocolates com sal e o contraste é uma explosão de sabores. As bebidas não alcoólicas mais famosas são a chicha morada, um suco fervido de milho roxo, maravilhoso e a famosa inca Kola, um refrigerante de cor radioativa e de sabor artificial, mas que precisa ser provado. Sem esquecer é claro dos maravilhosos chocolates 100% cacau, para serem derretidos e degustados com leite ou água. Agora quer uma bebida exótica? Que tal um grão de café que passa pelo estômago do Quati? Isso mesmo o Capis Coffe, é o resultado da alimentação dos Quatis, que comem a fruta do café e o grão é excretado intacto. O grão é quimicamente modificado pelas enzimas do estômago dos quatis, agregando sabor, decompondo as proteínas que produzem amargura e dando notas suaves de nozes e chocolate. Se você gosta de uma cervejinha, não pode perder a Cusqueña, a cerveja premium do Peru, que pode ser Roja, Negra, Trigo ou Golden. A Negra tem um dulçor fantástico e cai muito bem com o Cuy grelhado. A Dorada ou golden harmoniza perfeitamente com as conchas parmesiana e o polvo da cidade de Paracas. Você pode escolher em fazer um tour gastronômico por Lima, por exemplo, onde estão os melhores restaurantes, mas não vimos necessidade, já que estes pratos podem ser degustados em qualquer esquina e de acordo com sua fome. Mas afinal, o Peru consegue produzir vinhos a nível de Argentina, Chile e Brasil? A resposta esta em uma vinícola que se destacou no guia descorchados, e que pela primeira vez foi considerada pela publicação uma das melhores referências vitivinícolas das Américas. A bodega Tacama foi a primeira vinícola da América do Sul, e o primeiro centro enoturístico do Peru, contando com restaurante, vinícola e vinhedo. O restaurante “El Tambo de Tacama”, oferece uma carta com comida crioula e regional, alem de harmonização com os vinhos e piscos da casa. Falando um pouco de história e da importância desta vinícola na América do Sul, foi nela que, em 1961, foi realizada a primeira fermentação malolática em vinhos nas Américas. Tacama é o espaço por onde passaram grandes nomes da enologia. O francês Robert Niederman, por exemplo, foi o sucessor de uma distinta dinastia de vitivinicultores franceses e, ali, mestre de muitos, como Philippe Dhalluin, enólogo e agora diretor do famoso Château Mouton Rothschild. Robert Niederman, que tinha sido conhecido na Argélia como "o médico" pela sua capacidade de preparar maus vinhos, queria encontrar uma solução e recordou uma conversa que teve com Émile Peynaud, o pai da enologia moderna, antes da sua chegada a Tacama. Na palestra, Peynaud contou a ele sobre sua descoberta: a fermentação malolática. E ele estava incrédulo. Desta vez, intrigado, Niederman o chamou para contar o que havia acontecido em Tacama, Peynaud o guiou passo a passo e seu processo funcionou. Desde aquele evento, não há vinho tinto Tacama sem fermentação malolática. A uva destaque da região se chama Quebranta, que vem do cruzamento das primeiras variedades que chegaram ao Peru, como a Negra Criolla e a Mollar. Quebranta é uma variedade tinta, embora tenha um cacho de tamanho médio que não é completamente colorido com diferentes tons de bagas vermelho-azuladas (do rosa ao roxo), podemos até encontrar alguns verdes. Devido à sua classificação em variedades não aromáticas, o Pisco Quebranta não é muito expressivo no nariz. É na boca onde este destilado se expressa com maior intensidade, apreciando notas de banana, maçã verde, passas pretas, pecans, feno e toques herbáceos. Tem uma grande capacidade de concentrar altos indicadores de doçura na maturidade, o que lhe permite obter uma maior quantidade de álcool e, portanto, um bom rendimento no destilado. É uma variedade resistente e rústica com muito caráter e personalidade. É sem dúvida o mais produzido e o mais conhecido das chamadas uvas pisquenhas. Porém… Tacama fez seu vinho com ela, o Tonuz possui 80% Quebranta e 20% Tannat, resultando em um tinto fresco e amigável com caráter frutado. Os vinhos do Peru entraram pela primeira vez no guia descorchados este ano, em 2022, sendo a Bodega Tacama a com mais produtos qualificados, são eles: Don Manuel Tannat (92 puntos), Don Manuel Petit Verdot (91 puntos), Selección Especial Petit Verdot (91 puntos), Selección Especial Carménère (88 puntos), Selección Especial Malbec (88 puntos), “O” Malbec (90 puntos), Blanco de Blancos Sauvignon Blanc (88 puntos), Blanco de Blancos Sauvignon Blanc-Chardonnay-Viognier (86 puntos), Gran Tinto Malbec-Tannat-Petit Verdot (87 puntos), Gran Tinto Crianza Malbec (86 puntos) y Gran Blanco Sauvignon Blanc-Chardonnay-Chenin Blanc (86 puntos). O vale de Ica, onde estão os principais produtores de vinhos de alta gama do Peru, guarda também a rota do Pisco… Nós fomos atras de vinhos mas nos deparamos com o tal de Pisco, para tudo! Que bebida é essa? Na bodega Tacama fomos recebidos pelo embaixador da marca, Alexander Holender, que nos brindou com uma aula de Pisco, uma bebida que pode ser produzida mais “secas” voltadas para drinks ou ainda extremamente aromáticas para serem consumidas puras. Antes de existir o pisco existia o vinho, que começou a ser elaborado graças à chegada dos espanhóis, que trouxeram a uva ao país sul-americano. A primeira referência ao vinho é de 1528. Ocorre durante a segunda viagem de Francisco Pizarro, que recebe a visita de um “senhor de porte realmente aristocrático”, ao qual o conquistador ofereceu vinho preparado nestas terras, “uma bebida que demonstrou agradá-lo”. O vinho produzido no Peru era tão bom que começou a ser exportado para terras ibéricas, e os moradores da Espanha não gostaram muito da notícia, motivo pelo qual o rei Felipe II impôs uma restrição à saída desta bebida, que acabou sendo aceita em 1613. Diante disso, os produtores da costa peruana tiveram que ser criativos e intensificaram a produção de pisco. Este esclarecimento é importante. No Peru se produz destilado, e não aguardente. Aguardente é uma mistura de açúcares residuais e sua graduação alcoólica é corrigida, enquanto o destilado não recebe nenhum outro ingrediente e não pode receber influência de sabores externa, como barrica de carvalho por exemplo. Para a criação deste destilado são usadas as denominadas uvas pisqueiras, que se classificam em dois grandes grupos: não aromáticas- quebranta, mollar, negra criolla e uvina-, e as aromáticas -italia, moscatel, torontel e albilla. Estas variedades são as que geram os seguintes 3 tipos de pisco: Puro: obtido com uma única destilação de mostos frescos completamente fermentados e exclusivamente de uma única variedade de uva pisqueira. Mosto Verde: obtido de uma única destilação de mostos frescos de uvas pisqueiras com fermentação incompleta. Pisco acholado: adquirido da mistura de uvas pisqueiras, assim como de mostos frescos de uvas pisqueiras com fermentação completa ou incompleta. Nosso preferido foi o mosto verde de uvas aromáticas, para tomar puro e o Puro da uva Quebranta, para drinks como o famoso Pisco sour. De Tacama seguimos até a Bodega Queirolo, onde pernoitamos, e fica a 10 minutos da Bodega Tacama. Lá você tem direito ao tour pela vinícola e degustação de vinhos e piscos, que esta incluso na estadia. Errôneamente, muitos pensam que Peru = Machu Picchu, e nós éramos parte deste grupo, até descobrirmos que 15 dias é pouco para este país, que entrou na nossa lista de top 3 entre as melhores trips que já fizemos na vida.
Em resumo, quando você for visitar o Peru, saiba que deve tirar um dia para os vinhos e piscos do país em uma experiência enogastronômica completa na Bodega Tacama, e já avisamos, separe espaço na mala, pois você vai levar um pisco pra casa. Salud!
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Andre & Karla
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