Muitas pessoas afirmam: “Eu não gosto de vinho do Porto!” Ok, mas quais Porto você já provou? Em qual temperatura? Com qual prato? Já estava no ponto de ser degustado? É claro que ninguém vai abrir uma garrafa de vinho do porto e tomar como se fosse um vinho tranquilo, assim como não vamos abrir um vinho Madeira ou colheita tardia e fazer o mesmo. Não queira pegar um prato de Macarrão ao pesto, encher uma taça para vinho tinto, com vinho do Porto, e tomar a temperatura ambiente. Assim é claro que você não vai gostar. O vinho do Porto precisa de momento, como, antes das refeições, acompanhando sobremesas ou queijos, e na temperatura ideal, frio, para equilibrar a sensação do alto teor alcoólico. O que torna o vinho do Porto diferente dos restantes vinhos, além do clima único, é o fato de a fermentação do vinho não ser completa, sendo parada numa fase inicial, através da adição de uma aguardente vínica neutra (com cerca de 77º de álcool). Assim o vinho do Porto é um vinho naturalmente doce (visto o açúcar natural das uvas não se transforma completamente em álcool) e mais forte do que os restantes vinhos (entre 19 e 22º de álcool), sendo um vinho fortificado. Quando falamos de vinho do Porto, pensamos que ele é produzido no Porto, certo? Mas não é. Sua produção é feita na região do Douro, mas carrega este nome, pois o vinho saia da cidade do Porto para o mundo. Os produtores transportavam os barris, do Douro para o Porto, onde ficavam os únicos comerciantes para o vinho. Este transporte era feito de barco através do rio Douro. Com isso, a área de Vila Nova de Gaia, abriga até hoje as cavas dos maiores produtores de vinho do Porto. Aliás, Vila Nova de Gaia é o local com maior concentração de álcool por metro quadrado do mundo. Hoje, felizmente, os produtores não precisam mais levar os barris até Vila Nova de Gaia e já podem vendê-los através da região do Douro mesmo, ou seja, muitos vinhos do Porto excelentes, de produtores menores, estão no Douro e não nas caves de Vila Nova de Gaia. Um detalhe importante é que grande parte dos produtores ainda amassam as uvas com os pés. As empresas maiores já usam maquinas que possuem sapatas de silicone, e imitam a pisa de uma pessoa de 80 kilos. O Vinho do Porto é produzido exclusivamente a partir de uvas provenientes da Região Demarcada do Douro, no Norte de Portugal a cerca de 100 km a leste da cidade do Porto. Podemos dizer que Régua e Pinhão são os principais centros de produção e o turismo gira em torno destas duas cidades. Como apenas as informações contidas nos livros não nos satisfazem, fizemos como sempre, fomos ao Porto, onde visitamos as Caves de Vila Nova de Gaia. Quando falamos de vinho do Porto, temos que saber diferenciar seus tipos: Branco, Ruby, Tawny, LBV e Vintage. Vamos explicar de forma rápida e clara estas diferenças: Primeiramente, para você entender melhor, veja na foto abaixo, que na esquerda existem grandes tonéis e na esquerda pequenos barris. Nenhum dos dois oferecem mais características aos vinhos, pois já foram muito usados, são as chamadas barricas neutras. A maior diferença está na capacidade de envelhecimento, no tanque da esquerda, o vinho tem menos contato com o oxigénio; Já o da direita mais vinho está em contato com a superfície do barril, ou seja, mais contato com o ar. Dito isso, tenha em mente que os Ruby, descansam nos grandes da esquerda e os Tawny nos pequenos a direita. Estilo Ruby: Envelhecimento em garrafa. Porto Ruby Reserva Vinhos que frequentemente resultam de uma selecção dos melhores vinhos do Porto de cada ano, combinados para criar um vinho jovem, poderoso, frutado e intenso. Porto Late Bottled Vintage (LBV) É um Porto Ruby de um só ano, seleccionado pela sua elevada qualidade engarrafado depois de um período de envelhecimento de entre quatro a seis anos. A maioria está pronta a ser consumida na altura da compra, mas alguns continuam o seu envelhecimento em garrafa. Porto Vintage Considerado por muitas pessoas como a cereja do bolo dentre os vinhos do Porto, é o único Porto que amadurece em garrafa. É um vinho não filtrado, que fica em contato com a borra dentro da garrafa. Produzido a partir de uvas de um único ano e engarrafado dois a três anos após a vindima, evolui gradualmente durante 10 a 50 anos em garrafa. Nos primeiros cinco anos mantém a intensidade rubi das cores originais, aromas exuberantes a frutos vermelhos, equilibrado por fortes taninos, que combinam muito bem com sobremesas ricas de chocolate. A medida em que envelhece, o deposito de sedimentos fica mais pesado e os frutos vermelhos dão lugar a frutos maduros. O que acontece basicamente para conseguirmos um Vintage é o seguinte: O produtor escolhe um lote que considera de extrema qualidade de seus vinhos, cerca de 1 ano e meio após a colheita, ele encaminha o vinho ao IVDP, se o instituto concordar que o vinho é excepcional, o declara como Vintage. Se as principais casas declararem o ano como Vintage, temos o chamado ano clássico. A diferença entre os Vintage e LBV em termos de envelhecimento, é que o Vintage amadurece na garrafa, por muitos anos, sem o contato com o ar. Já os LBV, aceleram este processo, repousando até seis anos em toneis de Madeira. Podemos comparar com uma comida sendo preparada em fogo lento, harmonizando os sabores, com um prato onde estamos com pressa e cozinhamos tudo em fogo alto. A que cozinha mais lentamente fica mais saborosa. Seria o caso dos Vintage. Uma regra básica é: Se for comprar um Porto Vintage, guarde a garrafa por no mínimo 10 anos. Se você não possui uma adega adequada para armazena-lo, deve comprar anos mais antigos como um 2009 ou menos. Se quiser tomar antes disso, compre um LBV, pois este já acelerou um pouco o processo de maturação nos toneis de madeira. Comprar um Vintage e tomá-lo muito jovem, é não fazer bom uso do seu dinheiro e principalmente, arruinar um processo evolutivo de um vinho muito especial. Porto (Vintage) Single Quinta Vintage Como comentamos, para ser um Porto Vintage, todas as quintas devem declarar que sua colheita foi excepcional, ai teremos o chamado Vintage clássico, que leva somente Vintage na garrafa. Caso apenas algumas Quintas reconheçam o ano como excepcional, o IDVP (Instituto do vinho do Porto e Douro), não reconhece aquele ano como Vintage, mas a Quinta pode declarar o vinho como Single Quinta Vintage. Ou seja o vinho é proveniente de uvas de uma só quinta. Estilo Tawny: Envelhecimento em madeira Porto Tawny pode ser Reserva, 10, 20, 30, 40 anos e Porto Colheita. Neste caso, os vinhos descansam nas barricas pequenas, e são um blend de diferentes anos. Note que para chegar em um 40 anos por exemplo, podem existir no mesmo blend vinhos de 45 anos como vinhos de 35 anos, ou ainda mais velhos ou mais novos que isso. Estas idades 10, 20, 30 ou 40, são uma média de diferentes anos, aprovadas pelo IDVP. Ou seja, você não estará tomando um vinho de 40 anos e sim um blend de diferentes idades, que juntos equivalem ao ano correspondente. Note que em termos de coloração, quanto mais velho, mais claro, mais com cor de tijolo o vinho vai ficando. Na quinta Vasques de Carvalho, por exemplo, 3% de um vinho do século XVIII é adicionado ao seu blend de 40 anos. Estes vinhos quando engarrafados, já estão prontos para o consumo, diferente dos Vintage, que precisam de tempo em garrafa. Porto Colheita Estes Tawnies de uma só colheita são envelhecidos em cascos por um período mínimo de sete anos, originando vinhos com amplitudes de cor e aromas que abandonam os frutos maduros e vão para castanhas, caramelo, tabaco e frutos secos. Algumas empresas possuem o Porto branco, com o mínimo de 16.5% de álcool e outras estão lançando o Porto Rosé, mais usado em drinks como o Porto & Tonic. Agora já deu para entender por onde vamos, correto? Se quiser um Porto mais frutado, vá de Ruby; Se quiser um mais para caramelo e frutas secas, vá de Tawny; Se lhe interessa algo mais complexo, envelhecido em garrafa, vá de Vintage (com mais de 10 anos); E se não tem paciência em esperar tanto tempo, vá de LBV. Sempre lembrando é claro, que a fama e reconhecimento dos vinhos do Porto estão nos Vintage, considerado o Rei, sendo o Tawny a rainha. Uma outra curiosidade, em Portugal existe uma regulamentação para a comercialização do vinho do Porto, chamada lei do terço. Ou seja, os produtores só podem vender 1/3 daquilo que possuem, outros 2/3 devem ficar em estoque, justamente para não ofertarem mais que a demanda, para garantirem o correto envelhecimento do vinho e para se resguardarem que terão vinhos para a venda, mesmo se algo excepcional aconteça com a colheita de um determinado ano. Saindo da parte teórica, vamos ao que interessa, nossas dicas de Porto. A nossa primeira parada nesta trip em Portugal, foi na bela e animada cidade do Porto, onde de um lado da ponte temos o centro histórico e do outro as caves de Vila Nova de Gaia. O negócio é pegar um mapa, programar a rota e sair caminhando…. E prepare-se para caminhar! São subidas e descidas a todo momento, mas a arquitetura, o Fado que se escuta em cada esquina, e a paisagem nem fazem você perceber o quanto caminhou. O único “atalho” que pode pegar, é na travessia para Vila Nova de Gaia. Logo que passar a ponte, existe um bondinho que o leva até as margens do rio, onde estão as cavas. A arquitetura do Porto é incrível, as construções revestidas de ajulejos, são com certeza, um dos pontos mais interessantes da cidade. Existem inúmeras cavas que você pode visitar e você precisa escolher quais lhe interessam mais. As Cavas Offley e Sandeman (são as marcas da empresa sograpevinhos), ou Craft, Taylor´s, Graham´s são as opções mais famosas. Com tanta oferta, você vai sair de lá um especialista em vinho do Porto. Lembrando que estas empresas são as grandes casas, com muitas Quintas, porém existem excelentes produtores que não possuem suas cavas no Porto e ainda estão no Douro. Orientamos a não fazer mais de duas visitas em todas sua estadia no Porto. Afinal, as cavas são muito parecidas e contam histórias semelhantes, mudando apenas a história da família. O ideal seria fazer duas visitas completas e de resto visitá-las direto na parte do wine tasting, a degustação. Fizemos uma visita VIP a Graham´s Port lodge. Fundada em 1820, considerada uma das melhores Cavas da região. É ideal para quem quer escapar das movimentadas Cavas a beira do rio, pois ela fica situada um pouco a cima do nível do Rio, tem que dar uma subidinha de uns 10 minutos a pé. Após um video e um tour muito explicativo pela Cava, tivemos a oportunidade de provar e diferenciar os tipos de vinho do Porto oferecidos pela empresa. Se você for um aficcionado por vinho do Porto, e tiver 600 euros para pagar em uma taça de vinho, pode provar o histórico colheita única de 1882. Sobre a culinária local, sugerimos comer uma francesinha, no restaurante Brasão, prato típico do Porto, feito com pão, queijo, presunto, carne e o ingrediente que caracteriza o prato, molho a base de cerveja. De entrada pedimos um belo bolinho de bacalhau com vinagrete de feijão. Esta combinação com o vinagrete de feijão foi incrível! Um lanchinho da tarde fica por conta de mais bolinho de Bacalhau, agora recheado com queijo serra da Estrela. Um ícone de Portugal, encontrado na Casa portuguesa do Pastel de Bacalhau. É servido com vinho do Porto branco, seco, que maravilha. Em Vila Nova de Gaia, entre as caves, existe um mercado onde você pode comer o Leitão do Zé. Lá você encontra também o bacalhau com natas, no restaurante Bacalhau do Porto. Dando sequência na odisseia gastronômica, que tal encarar umas sardinhas grelhadas (com bolinho de bacalhau de entrada é claro), harmonizadas com vinho branco do Douro DOC, as margens do Rio Douro, em um restaurante bem tradicional e com ótimo atendimento, chamado Peza Arroz. Imagine comer aquelas sardinhas que geralmente compramos em latas, frescas e grelhadas. Gosta de café e rabanada? Prepare o bolso e de uma passada no café Majestic, considerado um dos 6 cafés mais elegantes do mundo. (Estilo confeitaria Colombo do Brasil). Um cappuccino sai 6.50 euros. E aquela fome que dá entre uma refeição e outra, como acabar com ela? Com um pastel de Nata é claro. Lembrando que são pastéis de Nata, os pastelzinhos de Belém, só na cidade de Belém, que fica pertinho de Lisboa. É mais ou menos como a regra de espumante e Champagne.
Note que falamos muito de vinho do Porto e de comida… Só que devem ter percebido um detalhe, Porto harmoniza bem com sobremesa, queijos, chocolate, ou se toma apenas como um aperitivo, antes das refeições. Então qual vinho harmonizamos com os deliciosos pratos da região do Porto? Qual vinho se toma em um jantar? Justamente o vinho que todas as casas que fabricam vinho do Porto, também produzem. Aliás, são produzidos na mesma região que os vinhos do Porto… Os vinhos do Douro! Para falar destes excelentes vinhos, fomos até a região do Douro Valley, olhar de perto de onde saem os vinhos do Porto, mas principalmente, para provar os aclamados vinhos do Douro. Encontramos também inúmeros produtores menores de vinho do Porto, que não enviam seus vinhos as cavas de Vila Nova de Gaia, ou seja, esse é um passeio obrigatório a se fazer, para complementar a cidade de Porto. Fiquem ligações no próximo Post, as paisagens farão você passar suas próximas férias por lá, acreditem. Saúde!
2 Comments
Diogo Pereira
1/14/2024 04:40:41 am
Achei o post muito interessante e envolvente. Ele oferece uma perspectiva abrangente sobre a produção, tipos de vinho, visitas às caves e experiências culinárias na região.
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Vasco Geada
1/14/2024 05:21:31 am
A partilha da vossa experiência oferece uma nova perspectiva, embora abrangente, desde a produção dos vinhos a experiências culinárias na região
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Andre & Karla
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