Um vinho que fica enterrado, outro que escuta música clássica, são alguns dos temperos da trip à famosa região dos vinhos de São Roque, SP Saímos do aeroporto de Congonhas as 6:30 da manhã e fomos direto a São Roque, que fica apenas a 70km, ou 1 hora do aeroporto. Cidade que foi colonizada por imigrantes italianos e portugueses, com registro de vinhedos no século XVII. Mas o que fazer tão cedo por lá? Fomos recebidos pela vinícola e cafeteria Bella Aurora, que abre as 8:00 AM e é uma das primeiras na rota dos vinhos. Na vinícola encontramos a variedade "Máximo”, uma híbrida da Seibel e Syrah, criada no Instituto Agronômico de Campinas. Após este maravilhoso café da manhã, regado a vinho, (e a melhor coxinha do país na cafeteria) fomos até a vinícola Ferreira & Passero, onde fomos recebidos pela Fernanda, filha do Fernando, que junto com sua esposa Sandra, são os proprietário. Provamos muita coisa interessante e com um grande diferencial, ser a única vínicola da região que utiliza 100% das uvas plantadas em seu quintal, em São Roque, que contém 21 variedades de uvas, entre finas e de mesa. Vinhos com mínima intervenção, não filtrados, sem correção… Mas e o tal do vinhos dos mortos ou exumado? Surgiu de uma tradição portuguesa, onde durante as invasões francesas, em uma região de encosta portuguesa chamada Vila de Boticas, os moradores cansados de serem saqueados pelos franceses, decidiram enterrar todos os bens preciosos, que incluíam, é claro, os vinhos. Passados 4 ou 5 anos, os moradores foram desenterrar os bens e acharam que os vinhos estariam estragados, porém estavam transformados. Adquiriram novas características que deixaram os produtos melhores do que antes. A Ferreira & Passero, seguiu a tradição e fez um teste para tirar a prova real desta história. Enterrou alguns vinhos por 6 meses, foram aumentando o período e deixaram alguns por 4 anos e… mamma mia, ou ora pois! Descobriram que com menos de 1 ano já é possível perceber uma grande diferença e assim passaram a enterrar alguns de seus vinhos a 60cm de profundidade, deitados, sem amplitude térmica, poluição sonora, luz e com umidade constante. Cada vez que enterram seus vinhos, enterram junto uma espécie de capsula do tempo, contendo um jornal do dia do enterro com as notícias locais, que acaba se tornando um jornal de época na data da exumação dos vinhos. Depois desta experiência que consideramos imperdível, fomos almoçar na Quinta do Olivardo. O fado tocando, as decorações, o cardápio português e os vinhos, nos fazem quase que entrar em uma máquina de teletransporte até ilha da Madeira, em Portugal. Mas.. a Quinta do Olivardo e a Vila Don Patto, são os complexos gastronômicos mais conhecidos, turísticos e caros da região. Após o checkin na pousada, fomos até a vinícola XV de Novembro, com 60 anos na produção de vinhos. A Marca Quinta Moraes, trouxe a vínicola o status de produzir vinhos finos, além dos tradicionais vinhos de mesa. E para fechar o dia, jantar no Obarà grill, uma hamburgueria e steak house onde o cliente escolhe os ingredientes para a montagem de um hambúrguer que é feito na parrilla de carvão e fogo real. Achamos a experiência fantástica, preços justos e comida excelente. No dia seguinte, as 9:00 am tomamos um excelente café da manhã na Bonsucesso Alcachofras. Um empório e cafeteria que oferece inúmeros produtos e pratos feitos com alcachofra, uma das iguarias de São Roque. A mais de 30 anos no mercado, o empório fica aberto todos os dias, em frente a uma plantação de alcachofra, com produtos próprios como alcachofras em conserva, pasta de alcachofra, fundo de alcachofra congelado. No restaurante que abre finais de semana e feriados, você pode provar entre inúmeras iguarias, pastéis a base de alcachofra, bacalhau com alcachofra ao creme de natas e risoto de alcachofra ao vinho. O atendimento e o cuidado com cada prato faz da Bonsucesso uma parada obrigatória em qualquer roteiro. As 10:30 já estavam nos esperando na vinícola Goes, uma das mais famosas da região e que esta em atividade desde 1938. O Complexo da Góes é incrível, dispondo de visitas a parreirais, degustações orientadas, restaurante, lanchonete, cafeteria, wine bar e lojas com produtos regionais como queijos, doces, licores e chocolates. Anexo a loja de vinhos esta um espaço orientado aos vinhos finos, servindo o premiado “Philosofia”, feito de Cabernet Franc, e o “Tempo de Góes Trópicos Lorena Seco”, feito com a variedade Lorena, desenvolvida pela Embrapa. Ao lado, está a vinícola Bella Quinta, onde o atendimento, assim como os vinhos também foram os destaques. O tinto Bella Quinta - Cabernet Franc e Corbina, fica um ano em tanques de inox, 12,5% álcool, feitos com levedura selvagem e a mínima intervenção. Aromas de frutas negras frescas, terra molhada, tabaco e especiarias como pimenta preta. A palha é resgate e referências aos vinhos de garrafão, que protegiam e ajudavam no transporte dos vinhos. Neste “garrafão” de 880ml, encontramos 60% de Cabernet Franc de São Roque e 40% Corbina de São Miguel Arcanjo. E como sabemos que o vinho é matéria viva em constante transformação, é necessário um repouso merecido, com música. Isso mesmo, a vinícola ainda produz o “vinho musical” onde através da frequência das notas musicais, acredita-se que o vinho fica mais complexo, profundo e maduro. Aliás um dos principais chateau em Bordeaux, Palmer, testam esta teoria na plantação de novas vinhas, utilizando caixas de som no momento do plantio. Em um mundo onde bois no Japão tomam cerveja, recebem massagem e escutam musica clássica (ver nosso post sobre o Japão), porquê não um sonzinho para as plantas? Os vinhos são amadurecidos por 3 meses em barricas de carvalho e por este mesmo período, ficam “escutando”música 1 hora pela manhã e 1 hora pela tarde. A vinícola ainda produz exemplares como o vinho de ânfora, que são talhas de barro com impermeabilização de cera de abelha. Um método ancestral criado pelos gregos e que produz vinhos únicos, minerais e com taninos redondos. São Roque por muito tempo ficou conhecido como tendo produtores de vinhos de mesa e má qualidade, com castas tipo americanas, como a Niágara e Bordô. Porém, hoje a rota do vinho da cidade é uma das mais conhecidas do país. Com a evolução para castas viti viníferas e a produção de vinhos finos, a cidade começou a atrair olhares dos apreciadores de vinhos.
Na nossa visão, São Roque está em um processo de transição, onde as uvas finas são em sua maioria trazidas do Sul e poucas produzidas na cidade. São Roque ficou famosa no mundo dos vinhos pois a maioria das vendas ainda são dos vinhos de mesa suave, carro chefe da região. Claro que isso não impede de encontrarmos Cabernet Franc, Lorena, Malbec, tinta Roriz e Sauvignon Blanc de vinhedos próprios, que atendem os consumidores mais exigentes. Este passeio pode perfeitamente ser feito em um final de semana, ou com mais tempo para conhecer restaurantes, pousadas, pesqueiros e fazendas da região. Saúde!
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Andre & Karla
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